Dia 27 – Repórter por um dia

Eu, Mia e Camila - um papo ótimo! 
Gente, hoje tem entrevista no blog! Espero que vocês gostem. Lembra que eu contei que conheci uma cadeirante na festa da casa amarela? Pois então, Camila e eu ficamos amigas de infância depois daquela noite. Fiz uma visita à sua casa e conversamos muito. Ela me falou coisas muito legais, lições que vão comigo para a vida toda. Com a ajuda da Mia, selecionei a parte mais bacana do nosso papo para dividir com vocês. A Camila é uma comédia! Vejam aí.
No mundo lá fora, o que falta para quem é cadeirante?
Camila:
Vou eleger o que mais me incomoda: acessibilidade. Se eu não tenho carro, como ando na rua? Com ruas esburacadas, guias não rebaixadas? Como subo no ônibus? Como vou de metrô? Como é nas empresas, para receber funcionários? Se temos acesso a tudo isso, a gente promove o convívio, e o contato tira a ideia de que ser cadeirante é o fim do mundo.
Em casa, quais as principais adaptações devem ser feitas para que um cadeirante fique bem?
Camila:
Colocar rampa no lugar de degrau, ter portas mais largas e um banheiro espaçoso para poder entrar e se mexer. Uma coisa que sempre me incomoda são as maçanetas em formato de bolinha. Elas não são nada práticas.
Como nossas famílias devem agir com a gente?
Camila:
Deixando que a gente experimente. Nós precisamos tentar fazer as coisas sozinhas. Porque vira automático! Você diz: “Quero água”. E já vem o copo de água. Claro que não é por mal. É que o comportamento do cuidar fica condicionado. Cuidar é necessário, mas se passa do limite, vira uma situação de subestimar a pessoa. Se a pessoa consegue cortar o bife sozinha, deixe-a! Não a trate como criança. Se não consegue amarrar o sapato, ok, amarre para ele. Ou sugira que, para ser independente, passe a usar um sapato que não precisa amarrar
Vamos falar de assuntos mais íntimos. A paquera de um cadeirante é diferente?
Camila:
A paquera não, mas a deficiência seleciona quem vai te paquerar. Porque o cara está vendo que eu estou na cadeira de rodas e, se ele vem falar comigo, já vem sabendo que eu não quebrei o pé! Tem uma outra coisa engraçada que uma amiga me disse uma vez: a falta do bumbum! No Brasil, o bumbum tem um apelo sexual muito grande. Se você está sentada o tempo todo, o cara não vê seu bumbum, já pensou nisso? Daí você tem que usar outros recursos: explorar pernas, colo, braços… O bumbum, só depois que a coisa for para firme, se é que você me entende… 
Você tem uma vida feliz?
Camila:
Não trocaria a vida que tenho hoje por nada. E não é hipocrisia. Se eu não tivesse passado por tudo que passei, não seria a pessoa que sou. Nós não sabemos do que  somos capazes! Só descobrimos quando a vida te põe à prova. Eu me acho bonita, acho meu corpo bonito, tenho um marido gato. O que mais eu poderia querer da vida?!
Bookmark e Compartilhe
Share |

0 comentários |deixe um comentario: